Alucinógenos como terapia complementar no manejo da depressão: uma revisão integrativa
PDF

Palavras-chave

Psicodélicos
Depressão
MDMA
Psilocibina
Terapia assistida por psicodélicos

Como Citar

Caminha Raposo, P. H., Almeida Gonçalves, L., de Araújo Caetano, A. L., Vasconcelos Guimarães, T., & Santos Marques, M. (2025). Alucinógenos como terapia complementar no manejo da depressão: uma revisão integrativa. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, 7(10), 559–584. https://doi.org/10.36557/2674-8169.2025v7n10p559-584

Resumo

A depressão é um transtorno de grande impacto clínico e social, frequentemente resistente ao tratamento convencional, o que motiva a busca por estratégias terapêuticas complementares. Psicodélicos como a psilocibina e o MDMA têm se destacado por induzir respostas rápidas e duradouras em sintomas depressivos. Esta revisão integrativa analisou 14 estudos publicados entre 2015 e 2024, selecionados nas bases PubMed, MEDLINE, LILACS e BVS, incluindo ensaios clínicos, artigos originais e relatos de caso. Os resultados indicam que a psilocibina reduz significativamente os sintomas do transtorno depressivo maior, inclusive em casos resistentes, promovendo melhora clínica rápida e sustentada após uma ou poucas doses (Raison et al., 2023; Hsu et al., 2024; Kalfas et al., 2023), enquanto o MDMA, associado à psicoterapia, demonstrou eficácia robusta no tratamento do transtorno de estresse pós-traumático, com potencial em contextos paliativos e evidências de custo-efetividade em longo prazo (Ot’alora et al., 2018; Mitchell et al., 2023; Marseille; Mitchell; Kahn, 2022; Bhagavan et al., 2024). Ambos apresentaram perfis de segurança aceitáveis em ambientes controlados, embora sejam necessários ensaios de larga escala, padronização de protocolos e avaliação em populações mais diversas (Feduccia et al., 2021; Kuypers et al., 2018). No Brasil, o uso terapêutico desses psicodélicos é restrito: psilocibina e MDMA constam na Lista F2 da Portaria SVS/MS nº 344/1998, e seu uso fora de pesquisas autorizadas é proibido pela Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006), exigindo atenção ética e regulatória, incluindo consentimento informado, monitoramento rigoroso e debates sobre equidade no acesso. Em síntese, os psicodélicos representam uma alternativa inovadora e promissora no manejo da depressão, com evidências de eficácia e segurança, embora sua incorporação clínica dependa da consolidação de estudos que garantam protocolos padronizados, reprodutibilidade, viabilidade regulatória e reflexão ética, destacando-se como ferramentas complementares ao tratamento convencional e à psicoterapia estruturada.

https://doi.org/10.36557/2674-8169.2025v7n10p559-584
PDF

Referências

BARLOW, D. H. Clinical Handbook of Psychological Disorders: A Step-by-Step Treatment Manual. 5. ed. Nova Iorque: The Guilford Press, 2014.

BELMAKER, R. H.; AGAM, G. Major depressive disorder. New England Journal of Medicine, v. 358, n. 1, p. 55-68, 2008.

BHAGAVAN, Chiranth et al. Effect of MDMA-assisted therapy on mood and anxiety symptoms in advanced-stage cancer (EMMAC): study protocol for a double-blind, randomised controlled trial. Trials, v. 25, n. 1, p. 336, 2024.

CARHART-HARIS, R.; GOODWIN, G. M. The therapeutic potential of psychedelic drugs: past, present, and future. Neuropsychopharmacology, v. 42, n. 11, p. 2105-2113, 2017.

CIPRIANI, A. et al. Comparative efficacy and acceptability of 21 antidepressant drugs for the acute treatment of adults with major depressive disorder: a systematic review and network meta-analysis. Lancet, v. 391, n. 10128, p. 1357–1366, 2018.

CUIJPERS, P.; KARYOTAKI, E.; WEITZ, E.; et al. The effects of psychotherapies for major depression in adults on remission, recovery and improvement: a meta-analysis. Journal of Affective Disorders, v. 202, p. 28-36, 2014.

DAVIS, A. K. et al. Effects of psilocybin-assisted therapy on major depressive disorder: a randomized controlled trial. Journal of Psychopharmacology, v. 35, n. 7, p. 741-752, 2021.

DEMARCHI, M. E.; CASSELLI, D. D. N. .; FIGUEIRA, G. M. .; SILVA, E. de S. M. e .; SOUZA, J. C. . Selective serotonin reuptake inhibitors in the treatment of depression: discontinuation and/or dependency syndrome?. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 9, p. e815998035, 2020.

FEDUCCIA, Allison A. et al. ARTIGO RETRATADO: A descontinuação de medicamentos classificados como inibidores de recaptação afeta a resposta ao tratamento da psicoterapia assistida por MDMA. Psicofarmacologia , v. 238, n. 2, p. 581-588, 2021.

FRIED, E. I.; NESSE, R. M. Depression is not a consistent syndrome: An investigation of unique symptom patterns in the STAR*D study. Journal of Affective Disorders, v. 172, p. 96-102, 2015.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. Editora Atlas, 2008.

GREENBERG, P. E. et al. The economic burden of adults with major depressive disorder in the United States (2005 and 2010). Journal of Clinical Psychiatry, v. 76, n. 2, p. 155-162, 2015.

GREGORIO, D. et al. Hallucinogens in Mental Health: Preclinical and Clinical Studies on LSD, Psilocybin, MDMA, and Ketamine. The Journal of neuroscience: the official journal of the Society for Neuroscience, v. 41, n. 5, p. 891–900, 2021.

GRIFFITHS, R. R. et al. Psilocybin produces substantial and sustained decreases in depression and anxiety in patients with life-threatening cancer: a randomized double-blind trial. Journal of Psychopharmacology, v. 30, n. 12, p. 1181-1197, 2016.

HEAL, David J. et al. Psychedelics: threshold of a therapeutic revolution. Neuropharmacology, v. 236, p. 109610, 2023.

HSU, Tien-Wei et al. Comparative oral monotherapy of psilocybin, lysergic acid diethylamide, 3, 4-methylenedioxymethamphetamine, ayahuasca, and escitalopram for depressive symptoms: systematic review and Bayesian network meta-analysis. bmj, v. 386, 2024.

KALFAS, Michail et al. Psychedelics for treatment resistant depression: are they game changers?. Expert opinion on pharmacotherapy, v. 24, n. 18, p. 2117-2132, 2023.

KESSLER, R. C.; BROMET, E. Epidemiology of depression across cultures. Annual Review of Public Health, v. 34, p. 119-138, 2013.

KUYPERS, Kim PC et al. As avaliações de humor depressivo são reduzidas pelo MDMA em mulheres usuárias de ecstasy polidrogas homozigotas para o alelo l do transportador de serotonina. Relatórios científicos , v. 8, n. 1, p. 1061, 2018.

LOWE, Henry et al. Psychedelics: alternative and potential therapeutic options for treating mood and anxiety disorders. Molecules, v. 27, n. 8, p. 2520, 2022.

MACHADO, Beatriz Jorge Macedo et al. Importância da atividade física na prevenção da depressão em idosos. Revista Educação em Saúde, Anápolis – GO, v. 8, n. 1, p. 372-375, 2020.

MALHI, G. S.; MANN, J. J. Depression. The Lancet, v. 392, n. 10161, p. 2299-2312, 2018. doi:10.1016/S0140-6736(18)31948-2.

MARSEILLE, Elliot; MITCHELL, Jennifer M.; KAHN, James G. Updated cost-effectiveness of MDMA-assisted therapy for the treatment of posttraumatic stress disorder in the United States: Findings from a phase 3 trial. PLoS One, v. 17, n. 2, p. e0263252, 2022.

MITCHELL, Jennifer M. et al. MDMA-assisted therapy for severe PTSD: a randomized, double-blind, placebo-controlled phase 3 study. Focus, v. 21, n. 3, p. 315-328, 2023.

NICHOLS, D. E. Psychedelics. Pharmacological Reviews, v. 68, n. 2, p. 264-355, 2016.

NUTT, D. Psychedelic drugs-a new era in osychiatry? Dialogues in clinical neuroscience, v. 21, n. 2, p. 139–147, 2019.

NUTT, David; CROME, Ilana; YOUNG, Allan H. Is it now time to prepare psychiatry for a psychedelic future?. The British Journal of Psychiatry, v. 225, n. 2, p. 308-310, 2024.

OT’ALORA G, Marcela et al. 3, 4-Methylenedioxymethamphetamine-assisted psychotherapy for treatment of chronic posttraumatic stress disorder: a randomized phase 2 controlled trial. Journal of Psychopharmacology, v. 32, n. 12, p. 1295-1307, 2018.

OTTE, C. et al. Major depressive disorder. Nature Reviews Disease Primers, v. 2, p. 16065, 2016.

RAISON, Charles L. et al. Single-dose psilocybin treatment for major depressive disorder: a randomized clinical trial. Jama, v. 330, n. 9, p. 843-853, 2023.

RAZZA, L. B. et al.. Appraising the effectiveness of electrical and magnetic brain stimulation techniques in acute major depressive episodes: an umbrella review of meta-analyses of randomized controlled trials. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 43, n. 5, p. 514–524, set. 2021.

REIFF, C. M. et al. Psychedelics and psychedelic-assisted psychotherapy. The American journal of psychiatry, v. 177, n. 5, p. 391–410, 2020.

SILVA, J. R. M. et al. O papel dos alucinógenos no tratamento de transtornos mentais e sua relevância na psiquiatria: uma revisão integrativa. Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências E Educação, v. 9, n. 8, p. 2353–2363, 2023.

SOARES, Breno Almeida. O renascimento dos psicodélicos como potenciais agentes psicoterapêuticos: trajetória, avanços recentes e perspectivas. Rev. Bras. Psicoter.(Online), p. 215-241, 2021.

TABAAC, Burton J. et al. Psychedelic Therapy: A Primer for Primary Care Clinicians—Historical Perspective and Overview. American journal of therapeutics, v. 31, n. 2, p. e97-e103, 2024.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates. Geneva: WHO, 2017.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2025 Pedro Henrique Caminha Raposo, Lucas Almeida Gonçalves, Ana Laura de Araújo Caetano, Thiago Vasconcelos Guimarães, Matheus Santos Marques

Downloads

Não há dados estatísticos.
1 1