Resumo
Os inibidores da bomba de prótons (IBPs) são medicamentos amplamente utilizados no tratamento de doenças gastrointestinais relacionadas à hipersecreção ácida, como refluxo gastroesofágico, úlcera péptica e infecção por Helicobacter pylori. No entanto, o uso indiscriminado, muitas vezes por automedicação ou prescrição sem critérios clínicos bem estabelecidos, tem levantado preocupações sobre possíveis efeitos adversos associados ao uso prolongado. Considerando a ausência de estudos regionais que caracterizem o perfil dos usuários desses medicamentos torna-se relevante compreender essa realidade e seus desdobramentos clínicos. Este estudo teve como objetivo identificar o perfil dos pacientes usuários de inibidores da bomba de prótons, com ênfase em aspectos relacionados à automedicação, indicações clínicas, tempo de uso e potenciais complicações associadas. A pesquisa também buscou discutir os riscos à saúde decorrentes do uso prolongado desses fármacos, a partir de evidências científicas atualizadas. Trata-se de uma revisão narrativa de literatura. Para a seleção dos estudos, foram utilizados os indexadores Google Scholar, Scopus e Web of Science, com os seguintes descritores: “inibidores da bomba de prótons”, “perfil de pacientes”, “automedicação”, “efeitos adversos” e “complicações clínicas”. Foram incluídos artigos publicados entre 2004 e 2024, em português, inglês ou espanhol. Após aplicação dos critérios de elegibilidade, 47 artigos foram utilizados na composição da base teórica. Os resultados evidenciam um elevado índice de uso irracional de IBPs, com destaque para a automedicação e prescrições prolongadas sem necessidade comprovada. Complicações como deficiências nutricionais, osteoporose, deterioração cognitiva e lesões renais foram amplamente documentadas. Conclui-se que é fundamental fomentar o uso racional desses medicamentos e promover ações educativas voltadas tanto à população quanto aos profissionais de saúde.
Referências
AGGARWAL, N. Drug-induced subacute cutaneous lupus erythematosus associated with proton pump inhibitors. Drugs - Real World Outcomes, v. 3, n. 2, p. 145-154, 2016.
AHMED, A.; CLARKE, J. O. Proton Pump Inhibitors (PPI). StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557385/. Acesso em: 3 jun. 2024.
AKTER, S. et al. Cognitive impact after short-term exposure to different proton pump inhibitors: assessment using CANTAB software. Alzheimer's Research & Therapy, v. 7, n. 1, p. 79, 2015. Acesso em: 3 jun. 2024.
ANTONIOU, T. et al. Proton pump inhibitors and the risk of acute kidney injury in older patients: a population-based cohort study. CMAJ Open, v. 3, n. 2, p. E166, 2015.
ARAÚJO, L. M. L. de. Estudo de utilização de inibidores de bomba de prótons por usuários de farmácias comunitárias. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/32814. Acesso em: 3 jun. 2024.
BARACALDO-SANTAMARÍA, D. et al. Definition of self-medication: a scoping review. Therapeutic Advances in Drug Safety, v. 13, p. 20420986221127501, 2022.
BAZONI, P. S. et al. Self-Medication during the COVID-19 Pandemic in Brazil: Findings and Implications to Promote the Rational Use of Medicines. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 20, n. 12, p. 6143, 2023.
BEHZADIFAR, M. et al. Prevalence of self-medication in university students: systematic review and meta-analysis. Eastern Mediterranean Health Journal, v. 26, n. 7, p. 846–857, 2020.
BROWN, J. P. et al. Proton pump inhibitors and risk of all-cause and cause-specific mortality: A cohort study. British Journal of Clinical Pharmacology, v. 87, p. 3150–3161, 2021.
CASTRO, L. A.; DE PRADOS, C. M. A.; MARTÍNEZ, A. A. l. Consideraciones prácticas en el manejo de los inhibidores de la bomba de protones. Revista Española de Enfermedades Digestivas, v. 108, n. 3, p. 145-153, 2016.
COONEY, N.; POLLACK, C.; BUTKERAIT, P. Adverse drug reactions and drug–drug interactions with over-the-counter NSAIDs. Therapeutics and Clinical Risk Management, v. 11, n. 11, p. 1061, 2015.
CUNHA, N.; MACHADO, A. P. Inibidores da bomba de protões e o risco de eventos adversos graves – uma bomba cardiovascular? Revista Portuguesa de Cardiologia, v. 37, n. 10, p. 859–863, 2018.
DANZIGER, J. et al. Proton-pump inhibitor use is associated with low serum magnesium concentrations. Kidney International, v. 83, n. 4, p. 692-699, 2013.
DE LA COBA, C. et al. Proton-pump inhibitors adverse effects: a review of the evidence and position statement by the Sociedad Española de Patología Digestiva. Revista Espanhola de Enfermidades Digestivas, v. 108, n. 4, p. 207-224, 2016.
FERRARI, D. et al. Doença do Refluxo Gastroesofágico: uma revisão de literatura. Cadernos UniFOA, v. 7, n. 18, p. 93–99, 2017.
FENTAW GIRMAW et al. Self-medication practices among pregnant women in Ethiopia. Journal of Pharmaceutical Policy and Practice, v. 16, n. 1, 2023.
GAROFALO, L.; DI GIUSEPPE, G.; ANGELILLO, I. F. Self-Medication Practices among Parents in Italy. BioMed Research International, v. 2015, p. 1–8, 2015.
GIRMAW, F. et al. Self-medication practices among pregnant women in Ethiopia. Journal of Pharmaceutical Policy and Practice, v. 16, n. 1, 2023.
GOMM, W. et al. Association of proton pump inhibitors with risk of dementia: a pharmacoepidemiological claims data analysis. JAMA Neurology, v. 73, n. 4, p. 410–416, 2016.
GONÇALVES JÚNIOR, J. et al. Influência da publicidade na automedicação na população de um município brasileiro de médio porte. Journal of Health & Biological Sciences, v. 6, n. 2, p. 152, 2018.
HAASTRUP, P. et al. Strategies for discontinuation of proton pump inhibitors: a systematic review. Family Practice, v. 31, n. 6, p. 625–630, 2014.
HUGHES, C. M.; MCELNAY, J. C.; FLEMING, G. F. Benefícios e riscos da automedicação. Segurança de Drogas, v. 24, p. 1027–1037, 2001.
LAM, J. R. et al. Proton pump inhibitor and histamine 2 receptor antagonist use and vitamin B12 deficiency. JAMA, v. 310, n. 22, p. 2435-2442, 2013.
LAZARUS, B. et al. Proton pump inhibitor use and the risk of chronic kidney disease. JAMA Internal Medicine, v. 176, n. 2, p. 238-246, 2016.
LIMA, A. V.; NETO FILHO, M. D. A. Efeitos em longo prazo de inibidores bomba de prótons. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research, v. 5, n. 3, p. 45-49, 2014.
LO, C. H. et al. Association of Proton Pump Inhibitor Use With All-Cause and Cause-Specific Mortality. Gastroenterology, v. 163, n. 4, p. 852-861.e2, 2022.
MADANICK, R. D. Proton pump inhibitor side effects and drug interactions: Much ado about nothing? Cleveland Clinic Journal of Medicine, v. 78, n. 1, p. 39–49, 2011.
MATOS, J. F. et al. Prevalência, perfil e fatores associados à automedicação em adolescentes e servidores de uma escola pública profissionalizante. Cadernos Saúde Coletiva, v. 26, n. 1, p. 76–83, 2018.
MENEGASSI, V. D. S. et al. Prevalence of gastric proliferative changes in patients with chronic use of proton pump inhibitor agents. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, v. 23, n. 3, p. 145-149, 2010.
MORSCHEL, C. F.; MAFRA, D.; EDUARDO, J. C. C. The relationship between proton pump inhibitors and renal disease. Jornal Brasileiro de Nefrologia, v. 40, n. 3, p. 301-306, 2018.
O’CONNELL, M. B. et al. Effects of Proton Pump Inhibitors on Calcium Carbonate Absorption in Women: A Randomized Crossover Trial. American Journal of Medicine, v. 118, p. 778–781, 2005.
OLIVEIRA, A. V. C. de; ROCHA, F. T. R.; ABREU, S. R. de O. Acute liver failure and self-medication. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, v. 27, n. 4, p. 294–297, 2014.
PONS, E. da S. et al. Self-medication in children aged 0–12 years in Brazil: a population-based study. Revista Paulista de Pediatria, v. 42, p. e2022137, 2023.
RATHOD, P. et al. Prevalence, Pattern, and Reasons for Self-Medication: A Community-Based Cross-Sectional Study From Central India. Cureus, v. 15, n. 1, p. e33917, 2023.
ROSÂNGELA BUZANELLO. Consentimento para processamento de dados de pesquisa em prontuários médicos. Revista Bioética, v. 31, 2023.
SANT’ANA, R. N.; FREITAS FILHO, R. Direito fundamental à saúde no SUS e a demora no atendimento em cirurgias eletivas. Direito Público, v. 12, n. 67, 2017.
SILVA, E. C.; VIEIRA, A. L. S.; MELO, N. I. de. Perfil de usuário de omeprazol em uma rede privada de drogaria. Scientia Generalis, v. 2, n. 2, p. 177–187, 2021.
SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
TARGOWNIK, L. E. et al. The relationship between proton pump inhibitor use and longitudinal change in bone mineral density. The American Journal of Gastroenterology, v. 107, n. 9, p. 1361, 2012.
TESFAMARIAM, S. et al. Self-medication with over the counter drugs: prevalence of risky practice and its associated factors. BMC Public Health, v. 19, n. 1, 2019.
THOMSON, A. B. et al. Safety of the long-term use of proton pump inhibitors. World Journal of Gastroenterology, v. 16, n. 19, p. 2323, 2010.
VIANA, A. L. D.; LIMA, L. D. de. Regionalização e relações federativas na política de saúde do Brasil. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/int-4272. Acesso em: 3 jun. 2024.
XIE, Y. et al. Risk of death among users of Proton Pump Inhibitors: a longitudinal observational cohort study. BMJ Open, v. 7, p. e015735, 2017.
YANAGIHARA, G. R. et al. Effects of long-term administration of omeprazole on bone mineral density. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 50, n. 2, p. 232-238, 2015.
YANG, Y. X. et al. Long-term proton pump inhibitor therapy and risk of hip fracture. JAMA, v. 296, n. 24, p. 2947–2953, 2006.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Rafael Antonio de Oliveira Silva