Abstract
Introdução: O manejo anestésico de pacientes com insuficiência cardíaca (IC) grave representa um desafio clínico significativo, devido ao alto risco de descompensação hemodinâmica e complicações perioperatórias. A IC altera a resposta fisiológica ao estresse cirúrgico e anestésico, exigindo planejamento rigoroso e monitorização intensiva. A escolha da técnica anestésica e o controle preciso do volume intravascular e da contratilidade são fundamentais para otimizar o desfecho cirúrgico. Objetivo: Revisar as principais estratégias de manejo anestésico em pacientes com insuficiência cardíaca grave submetidos a cirurgias não cardíacas, destacando recomendações baseadas em evidências e diretrizes recentes. Metodologia: Foi conduzida uma revisão narrativa nas bases PubMed, SciELO e LILACS, incluindo publicações entre 2015 e 2025. Foram consultadas as diretrizes da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), da American College of Cardiology/American Heart Association (ACC/AHA) e da European Society of Anaesthesiology (ESA). Discussão/Resultados: O manejo anestésico deve iniciar-se com avaliação pré-operatória detalhada, incluindo otimização da função cardíaca, ajuste de medicações e controle de comorbidades. Beta-bloqueadores e inibidores da ECA devem ser mantidos, salvo contraindicações. O tipo de anestesia geral, regional ou combinada, deve ser individualizado conforme o procedimento e a estabilidade hemodinâmica do paciente. Durante o ato anestésico, a monitorização invasiva (pressão arterial contínua, pressão venosa central e, em casos selecionados, cateter de artéria pulmonar) é recomendada para guiar a reposição volêmica e o uso de drogas vasoativas. O uso de agentes anestésicos de rápida titulação, como etomidato ou opioides potentes, pode reduzir a depressão miocárdica. Estratégias de proteção miocárdica e ventilação cuidadosa, evitando hipoxemia e acidose, são essenciais. No pós-operatório, deve-se priorizar vigilância em unidade de terapia intensiva, controle rigoroso de volume e prevenção de arritmias. Conclusão: O manejo anestésico em pacientes com IC grave exige abordagem multidisciplinar, planejamento individualizado e monitorização hemodinâmica contínua. A adesão a protocolos baseados em evidências reduz complicações e melhora a sobrevida perioperatória. O envolvimento conjunto entre anestesiologistas, cardiologistas e intensivistas é determinante para o sucesso terapêutico.
References
AMERICAN COLLEGE OF CARDIOLOGY; AMERICAN HEART ASSOCIATION. 2023 ACC/AHA Guidelines for the Management of Heart Failure. Journal of the American College of Cardiology, v. 81, n. 15, p. 1625-1701, 2023.
AMERICAN SOCIETY OF ANESTHESIOLOGISTS. Standards for Basic Anesthetic Monitoring. Illinois: ASA, 2023.
BENDER, J. S. et al. Perioperative management of patients with heart failure. Cleveland Clinic Journal of Medicine, Cleveland, v. 92, n. 4, p. 213–223, 2024.
BOS, L. D. et al. Mechanical ventilation strategies in heart failure patients: balancing oxygenation and hemodynamics. Critical Care Medicine, v. 49, n. 6, p. 845-854, 2021.
BRAUNWALD, E. et al. Heart Failure: A Companion to Braunwald’s Heart Disease. 4. ed. Philadelphia: Elsevier, 2022.
CHONG, M. A. et al. Goal-directed fluid therapy in high-risk noncardiac surgery: a systematic review and meta-analysis. Anesthesia & Analgesia, v. 128, n. 4, p. 745-757, 2019.
EUROPEAN SOCIETY OF ANAESTHESIOLOGY. ESAIC Clinical Practice Guidelines for Perioperative Care in Patients with Heart Failure. Brussels: ESAIC, 2022.
FLEISHMANN, K. E. et al. 2024 ACC/AHA guideline for perioperative cardiovascular evaluation and management of patients undergoing noncardiac surgery. Circulation, Dallas, v. 150, n. 12, p. 1054–1117, 2024.
KILGER, E. et al. Perioperative management of heart failure patients undergoing noncardiac surgery. Current Opinion in Anesthesiology, v. 33, n. 1, p. 66-74, 2020.
KRAKAUER, L. H. et al. Hemodynamic safety of etomidate and remifentanil in heart failure patients: a comparative study. British Journal of Anaesthesia, v. 126, n. 3, p. 512-519, 2021.
LERMAN, J.; BARASH, P. G.; STOLLER, J. K. Anesthesia and Coexisting Disease. 8. ed. Philadelphia: Elsevier, 2021.
MILLER, R. D.; TAYLOR, C. R.; SAKAI, T. Miller’s Anesthesia. 10. ed. Philadelphia: Elsevier, 2023.
MUNRO, C. A. et al. Preoperative evaluation and optimization of patients with severe heart failure. Journal of Cardiothoracic and Vascular Anesthesia, v. 36, n. 2, p. 443-455, 2022.
NIE, J. et al. Vasopressor and inotrope use in perioperative heart failure management. Journal of Critical Care, v. 58, p. 267-275, 2020.
POPOVIC, B. et al. Beta-blocker continuation and outcomes in heart failure patients undergoing noncardiac surgery. European Heart Journal, v. 44, n. 2, p. 156-164, 2023.
PONIKOWSKI, P. et al. 2016 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. European Heart Journal, Oxford, v. 37, n. 27, p. 2129–2200, 2016.
SILVERSTEIN, J. H. et al. Postoperative outcomes in patients with severe left ventricular dysfunction. Anesthesiology, v. 137, n. 5, p. 897-910, 2022.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANESTESIOLOGIA (SBA). Diretrizes de monitorização e segurança anestésica. São Paulo: SBA, 2023.
WANG, Y. et al. Goal-directed hemodynamic optimization in high-risk surgical patients: impact on outcomes. Anesthesia & Analgesia, v. 132, n. 3, p. 817-829, 2021.
YANCY, C. W. et al. 2022 AHA/ACC/HFSA guideline for the management of heart failure. Journal of the American College of Cardiology, New York, v. 79, n. 17, p. e263–e421, 2022.

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Ana Luiza Carvalho Sato, Gabrielle Lahoud Chati, Maria Clara Almeida da Silva, João Pedro Alves Cordeiro , Ana Paula Viana de Andrade, Ricardo dos Santos Govoni , Ederson Ferreira da Cruz , Milena Fernandes da Silveira , Matheus Camargo Baiocchi , Jessica de Medeiros Guedes Palitot , Darlington Salgado, Mariana Cabral Couto