Resumo
O crescente uso de dispositivos digitais por crianças em idade precoce tem suscitado preocupações no campo da saúde mental e do desenvolvimento infantil. Justifica-se a presente investigação pela alta prevalência de diagnósticos equivocados de transtornos do neurodesenvolvimento, muitas vezes resultantes da superexposição às telas e seguidos da prescrição precoce e indevida de psicofármacos. Este estudo teve como objetivo analisar a relação entre o uso excessivo de telas na infância, os atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor e a banalização do uso de psicotrópicos, propondo diretrizes para o manejo clínico adequado. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, baseada em revisão integrativa da literatura (2010–2024), análise documental de diretrizes nacionais e internacionais, além de relatos clínicos e observações empíricas. Os resultados apontaram que 78% das crianças que reduziram a exposição digital apresentaram remissão significativa dos sintomas inicialmente confundidos com TEA, TDAH e distúrbios da linguagem. Além disso, evidenciou-se a presença de distúrbios do sono, alterações hormonais e regressão de habilidades socioemocionais associadas ao uso excessivo de telas. Conclui-se que muitos dos quadros classificados como transtornos mentais em crianças são, na verdade, manifestações ambientais reversíveis. A capacitação profissional, o diagnóstico contextualizado e a educação parental emergem como estratégias centrais para enfrentar esse fenômeno e evitar a psiquiatrização indevida da infância.
Referências
AMARANTE, Paulo. Loucos pela vida: a trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Boletim de farmacovigilância: uso de psicotrópicos no Brasil. Brasília: ANVISA, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/. Acesso em: 20 jun. 2025.
Assumpção, Francisco. A psiquiatria infantil e os desafios do tempo presente. Revista Brasileira de Psiquiatria Infantil, v. 42, n. 2, p. 85-92, 2023.
BRASIL. Ministério da Educação. Relatório do Comitê de Monitoramento dos Diagnósticos Psiquiátricos Infantis no Ambiente Escolar. Brasília: MEC, 2023.
BRZOZOWSKI, Felipe Silva. A medicalização da infância: entre os excessos do diagnóstico e os limites do cuidado. Psicologia Clínica, v. 27, n. 2, p. 145–164, 2015. DOI: 10.1590/0103-56652015000200009.
CHEUNG, C. H. M. et al. Screen media exposure and children's mental health: a review. Early Human Development, v. 115, p. 52–59, 2017.
CLEMOW, David B.; BUSHE, Chris J. Atomoxetine in patients with ADHD: a review of adverse events. Expert Opinion on Drug Safety, v. 14, n. 4, p. 499–511, 2015.
DEL’PRETTE, Almir; DEL’PRETTE, Zilda A. P. Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2018.
FREIRE, I. S.; SILVA, G. T. Vínculos sociais e proteção emocional na infância ribeirinha amazônica. Revista Brasileira de Saúde Coletiva, v. 27, n. 3, p. 409–419, 2022.O Cérebro da Criança Explicado aos Pais. São Paulo: Instituto Singular, 2023.
GAITO, MAYRA. O Cérebro da Criança Explicado aos Pais. São Paulo: Instituto Singular, 2023.
HEFFLER, K. F. et al. Association of early-life exposure to electronic screens with autism spectrum disorder–like symptoms. JAMA Pediatrics, v. 174, n. 5, p. 1–9, 2020. DOI:10.1001/jamapediatrics.2020.0106.
HURST, H. Digital detox in early childhood: a critical therapeutic strategy. Journal of Child Psychology & Practice, v. 12, n. 2, p. 88–102, 2021.
LISSENBERG, A. et al. Screen addiction and executive dysfunction in children: a neurobiological overview. Developmental Cognitive Neuroscience, v. 54, p. 101075, 2022. DOI: 10.1016/j.dcn.2022.101075.
MADIGAN, S. et al. Association between screen time and children’s performance on a developmental screening test. JAMA Pediatrics, v. 173, n. 3, p. 244–250, 2019.
PINTO, L. V. et al. Internações por intoxicação medicamentosa em menores de cinco anos de idade no Brasil, 2003 a 2012: estudo descritivo. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 20, n. 4, p. 702–714, 2017. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/ress/2017.v26n4/771-782/. Acesso em: 27 jun. 2025.
RADETZKY, J. S.; CHRISTAKIS, D. A. Increased screen time: implications for early childhood development and behavior. Pediatric Clinics of North America, v. 67, n. 4, p. 653–664, 2020.
ROSEMBERG, Fúlvia; COLLARES, C. A. L. A medicalização da infância: estratégias da psiquiatria e da psicologia na formação de subjetividades escolares. Revista Educação e Sociedade, v. 32, n. 117, p. 739–758, 2011.
SBP – SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de orientação: Primeira infância – o papel da Pediatria na promoção do desenvolvimento infantil. 2. ed. Rio de Janeiro: SBP, 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br. Acesso em: 18 jun. 2025.
SBP – SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital. Rio de Janeiro: SBP, 2022. Disponível em: https://www.sbp.com.br. Acesso em: 20 jun. 2025.
SHONKOFF, J. P.; GARNER, A. S. The lifelong effects of early childhood adversity and toxic stress. Pediatrics, v. 129, n. 1, p. e232–e246, 2012.
SILVA, A. C. M. et al. Perfil das internações por intoxicação exógena em crianças de 0 a 14 anos em Maringá-PR, 2006 a 2011. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 7, n. 7, p. 246–254, 2015. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/402. Acesso em: 27 jun. 2025.SILVA, A. C. M. et al. Perfil das internações por intoxicação exógena em crianças de 0 a 14 anos em Maringá-PR, 2006 a 2011. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 7, n. 7, p. 246–254, 2015. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/402. Acesso em: 27 jun. 2025.
SOUZA, Rafael da Silva. Hiperconectividade, saúde mental e subjetividade digital. Revista Estudos de Psicologia (Natal), v. 26, n. 1, p. 11–25, 2021. DOI: 10.22491/1678-4669.20210003.
TWENGE, J. M.; CAMPBELL, W. K. Associations between screen time and lower psychological well-being among children and adolescents: evidence from a population-based study. Preventive Medicine Reports, v. 12, p. 271–283, 2018.
UNICEF BRASIL. Infância e exclusão digital: estudo sobre o acesso à internet para crianças em situação de vulnerabilidade. Brasília: UNICEF, 2021.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines on physical activity, sedentary behaviour and sleep for children under 5 years of age. Geneva: WHO, 2019.
ZINZOW, H. Digital overstimulation in early childhood: identifying screen-induced neurotoxicity. Journal of Pediatric Neurodevelopment, v. 7, n. 1, p. 45–59, 2019

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Luis Henrique Brito Barreto Souza, Jeferson Manoel Teixeira, Wenberger Lanza Daniel de Figueiredo, Leonardo Cézanne Garcia da Silva Filho, Juan de La Cruz Vaca Salvatierra, Fernanda Brito Barreto Souza Colavolpe, Rogério de Oliveira Mendes