Resumo
As farmácias magistrais representam um importante pilar na personalização da terapêutica, sendo responsáveis pela manipulação de formulações individualizadas conforme as necessidades específicas dos pacientes. No entanto, observa-se que, apesar desse papel estratégico, o cuidado farmacêutico ainda não está plenamente integrado à rotina desses estabelecimentos. Fatores como a priorização do modelo produtivista, a ausência de formação clínica sólida e a carência de protocolos assistenciais dificultam a consolidação de uma prática centrada no paciente. Esta revisão teve como objetivo analisar o estado atual da prática do cuidado farmacêutico nas farmácias magistrais brasileiras, identificar os principais entraves à sua efetiva implementação e discutir alternativas para sua valorização no âmbito da assistência em saúde. Foi conduzida uma revisão integrativa da literatura, com buscas realizadas entre janeiro e fevereiro de 2024 nas bases BVS, Google Scholar, SciELO e Periódicos CAPES. Os descritores utilizados foram: “farmácia magistral”, “farmácia de manipulação”, “cuidado farmacêutico” e “atenção farmacêutica”, combinados pelo operador booleano AND. Foram incluídos artigos completos publicados entre 2013 e 2023, em português, inglês ou espanhol, que abordassem direta ou indiretamente a temática proposta. Foram identificados 795 estudos, dos quais 8 foram incluídos na análise final. Os achados foram organizados em três eixos temáticos: barreiras à efetivação do cuidado, percepção e práticas dos profissionais, e estratégias para institucionalização. Observou-se que, embora haja normativas favoráveis, como a Resolução CFF nº 746/2023, o cuidado farmacêutico ainda é incipiente no cotidiano das farmácias magistrais. Experiências pontuais demonstram, entretanto, que a orientação qualificada, o acompanhamento farmacoterapêutico e a educação em saúde podem promover melhores desfechos terapêuticos e fortalecer o vínculo com o paciente. Reforça-se a urgência de reposicionar o farmacêutico magistral como agente ativo do cuidado, promovendo uma atuação clínica que valorize a integralidade da atenção em saúde.
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