Resumo
O Astrocitoma de alto grau é um tumor primário, originado das células da glia com alta capacidade mitótica e metastática, sendo o subtipo mais agressivo de astrocitoma que acomete, principalmente, cães braquicefálicos adultos a idosos. Contudo, esse trabalho tem como objetivo relatar um caso de astrocitoma de alto grau, diagnosticado post-mortem de um canino, fêmea, lhasa apso de 14 anos de idade que apresentava crises epilépticas redicivantes, marcha compulsiva e ataxia proprioceptiva. No exame radiográfico foram evidenciadas lesões compatíveis com metástase pulmonar e renal. A paciente foi submetida à eutanásia devido apresentação dos sinais agudos e progressivos. Na necropsia, foram evidenciadas alterações neoplásicas em encéfalo, pulmões e rins; e, o histopatológico da massa encefálica foi sugestivo de astrocitoma de alto grau devido a presença de hemorragia, necrose e proliferação microvascular em sua composição. Uma das principais consequências de massas encefálicas é o aumento da pressão intracraniana, que pode contribuir para isquemia e, consequente, necrose, além de afetar áreas não acometidas pela massa diretamente, que são lesionadas mecanicamente pelo aumento da pressão. Além disso, o astrocitoma de alto grau possui caráter raro na rotina clínica veterinária, sendo de difícil diagnóstico ante mortem, que pode ser presuntivo com o auxílio de exames de imagem e correlação com sinais clínicos, visto que o diagnóstico definitivo é alcançado apenas com exame histopatológico (usualmente realizado post-mortem) que evidencia proliferação microvascular e necrose como fatores de diferenciação frente outros gliomas. Sendo assim, conhecer os sinais neurológicos e possíveis diagnósticos diferenciais à apresentação destes, proporciona ao Médico Veterinário capacidade para investigar possíveis astrocitomas e agir de maneira a proporcionar melhor sobrevida ao paciente.
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