Resumo
O paracetamol é amplamente utilizado para tratar dor e febre e é considerado seguro para uso durante a gravidez. Contudo, pesquisas recentes apontam que a exposição pré-natal a este medicamento pode estar relacionada a mudanças no desenvolvimento neurológico infantil. Essas alterações incluem um risco aumentado para transtornos como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TEA (Transtornos do Espectro Autista). Estudos epidemiológicos e experimentais sugerem que o uso do paracetamol durante a gravidez pode afetar fatores neurobiológicos, como a expressão do BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro) e a regulação do sistema endocanabinoide. Pesquisas, como as de Liew et al. (2014) e Brandlistuen et al. (2013), indicam que o uso prolongado do paracetamol aumenta o risco de TDAH em crianças expostas ao medicamento. Modelos animais também reforçam a hipótese de que o paracetamol pode interferir na formação neural, afetando a cognição e o comportamento social. Apesar desses achados, as pesquisas apresentam limitações, incluindo o controle insuficiente de fatores de confusão e a dependência de relatos maternos, que podem ser tendenciosos. Além disso, as diferenças nas doses e períodos de uso dificultam a determinação de uma relação causal. Revisões sistemáticas mostram que, embora a associação seja significativa, o efeito é moderado, sugerindo que fatores genéticos e ambientais também desempenham papel relevante. Portanto, embora exista uma possível associação entre o uso de paracetamol na gestação e desfechos neurológicos adversos, a causalidade ainda não é clara. É recomendável cautela no uso deste medicamento durante a gravidez, empregando a menor dose possível e por tempo limitado, sempre com orientação médica. Estudos longitudinais de alta qualidade são necessários para compreender melhor esses riscos e orientar a prática clínica.
Referências
ANDRADE, C. Acetaminophen use in pregnancy and the risk of autism spectrum disorder in children. The Journal of Clinical Psychiatry, 2016.
BAKER, B. H., Gupta, A. K., Shalabi, D. A., & Oskouian, R. J. Paracetamol exposure in utero and child neurodevelopmental outcomes: A literature review. Neurosurgical Review, 2020, 43(3), 827-835. https://doi.org/10.1007/s10143-019-01177-w.
BAUER, A. Z. et al. Paracetamol use during pregnancy: A precautionary approach. Nature Reviews Endocrinology, 2021.
BRANDLISTUEN, R. E. et al. Prenatal paracetamol exposure and neurodevelopmental outcomes: A sibling-controlled cohort study. International Journal of Epidemiology, 2013.
CASTRO, C. T. de. Paracetamol use during pregnancy and perinatal outcomes. Master's Dissertation, Universidade Federal da Bahia, 2021.
FAYS, L. et al. Paracetamol use during pregnancy and neurological development in children. Developmental Medicine & Child Neurology, 2015.
FELL, D. B., Dodds, L., King, W. D., & Armson, B. A. Maternal flu vaccination and reduced fever illness in newborns: Cohort study. Vaccine, 2015, 33(28), 3269-3275. https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2015.05.053.
GALATO, D. et al. Medication use profile among postpartum women in a Brazilian hospital. Rev. Bras. Farm. Hosp. Serv. Saúde, 2015.
LIEW, Z. et al. Acetaminophen during pregnancy, behavioral outcomes, and hyperkinetic disorders. JAMA Pediatrics, 2014.
MOSHA, D. et al. Medication exposure in pregnancy: Pilot pharmacovigilance using demographic and health surveillance data. BMC Pregnancy and Childbirth, 2014.
REBORDOSA, C., Kogevinas, M., Sorensen, H. T., & Olsen, J. Prenatal paracetamol exposure and wheezing/asthma risk in children: Birth cohort study. International Journal of Epidemiology, 2009, 38(3), 619-627. https://doi.org/10.1093/ije/dyn357.
THOMPSON, J. M., Waldie, K. E., Wall, C., Murphy, R., & Mitchell, E. A. Acetaminophen use in pregnancy and ADHD symptoms in children at ages 7 and 11. Pediatrics, 2016, 138(5), e20154681. https://doi.org/10.1542/peds.2015-4681.
VIBERG, H., Eriksson, P., Gordh, T., & Fredriksson, A. Neonatal paracetamol effects on cognitive function and analgesic/anxiolytic response in adult male mice. Toxicological Sciences, 2014, 138(1), 139-147. https://doi.org/10.1093/toxsci/kft314.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2024 Robson Salaroli