Abstract
As cardiopatias congênitas (CCs) estão entre as anomalias congênitas mais comuns, representando uma das principais causas de morbidade e mortalidade neonatal e infantil em todo o mundo. No Brasil, a complexidade do tratamento dessas condições é exacerbada pela escassez de leitos de alta complexidade e pela desigualdade na distribuição de recursos, com apenas 9,6% dos hospitais credenciados pelo SUS oferecendo cirurgias cardíacas infantis. Este cenário é ainda mais crítico em regiões menos desenvolvidas, como o estado de Tocantins, onde não há centros de cirurgia cardíaca pediátrica. Esta revisão sistemática buscou nas bases de dados PubMed e LILACS identificar os avanços recentes no diagnóstico precoce e nas intervenções terapêuticas para neonatos e lactentes com CCs, com foco nos últimos 10 anos. Foram inicialmente identificados 120 artigos, dos quais 6 estudos preencheram os critérios de inclusão após triagem criteriosa. Os resultados destacam que a utilização da ecocardiografia fetal é fundamental para o diagnóstico precoce de cardiopatias críticas, permitindo o planejamento antecipado de intervenções, como cirurgias neonatais e procedimentos percutâneos minimamente invasivos. Essas abordagens, quando realizadas de forma precoce, foram associadas a uma redução significativa nas complicações pós-natais e melhora da sobrevida. Procedimentos como o fechamento percutâneo de defeitos cardíacos guiado exclusivamente por ecocardiografia transesofágica demonstraram uma taxa de sucesso de 100% em estudos recentes, além de proporcionar recuperação hospitalar mais rápida, menor necessidade de anestesia prolongada e a eliminação do uso de radiação ionizante, o que é particularmente benéfico em neonatos. Adicionalmente, em países em desenvolvimento, programas de colaboração internacional, como o Mécénat Chirurgie Cardiaque, permitiram a realização de cirurgias complexas em crianças que de outra forma não teriam acesso a esse tipo de tratamento. O estudo de Leca et al. mostrou que a taxa de sobrevida após cirurgias cardíacas em crianças de regiões de baixa renda foi de 85% em 5 anos, demonstrando que a assistência especializada pode melhorar significativamente os desfechos a longo prazo. Outro ponto relevante é a intervenção cardíaca fetal para casos críticos, como a estenose aórtica severa e a atresia pulmonar, que mostrou viabilidade técnica e resultados positivos em termos de desenvolvimento ventricular e redução de complicações neonatais. Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, persistem lacunas significativas, especialmente na padronização das abordagens terapêuticas entre diferentes centros, o que impacta diretamente os desfechos clínicos. A revisão destaca a necessidade urgente de mais estudos controlados que avaliem o impacto de novas tecnologias e estratégias terapêuticas, promovendo uma melhor compreensão das melhores práticas para o manejo dessas condições complexas, particularmente em ambientes com recursos limitados.
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