CIRURGIA SEM ANTIBIÓTICOS: UM FUTURO POSSÍVEL OU IMPRUDENTE?

Abstract

Desde a introdução da penicilina nos anos 1940, os antibióticos revolucionaram o tratamento de infecções bacterianas, especialmente em cirurgias. O uso profilático de antibióticos reduziu significativamente a mortalidade e complicações pós-operatórias, permitindo avanços importantes na medicina cirúrgica. Contudo, o uso indiscriminado e prolongado dessas drogas ao longo das décadas tem contribuído para o surgimento de bactérias resistentes, criando uma crise de saúde pública global. A resistência antimicrobiana tornou-se um desafio significativo, levando a infecções mais difíceis de tratar, maiores taxas de morbidade e aumento nos custos hospitalares. A comunidade médica, diante desse cenário, passou a buscar alternativas para a prevenção de infecções cirúrgicas sem o uso de antibióticos. Tecnologias emergentes, como terapias baseadas em bacteriófagos, nanotecnologia aplicada a biomateriais e modulação imunológica, oferecem novas possibilidades. Por exemplo, os bacteriófagos podem ser usados para combater infecções resistentes, enquanto a nanotecnologia pode criar superfícies antimicrobianas para instrumentos cirúrgicos. Ainda que essas abordagens representem avanços promissores, elas estão em estágios iniciais de desenvolvimento e apresentam desafios técnicos e clínicos. Paralelamente, otimizar a assepsia em ambientes cirúrgicos pode ajudar a reduzir a dependência de antibióticos, mas a implementação de uma cirurgia completamente livre desses medicamentos é complexa. Nesse contexto, é imprudente sugerir a abolição total dos antibióticos no curto prazo, dado seu significativo papel na segurança de cirurgias de alto risco, como transplantes de órgãos e cirurgias oncológicas. Uma abordagem equilibrada, que combine o uso racional de antibióticos com o desenvolvimento e a implementação gradual de novas tecnologias, representa o caminho mais promissor para enfrentar os desafios da resistência antimicrobiana no cenário cirúrgico.