Impacto do Uso de Cigarros Eletrônicos (Vapes) na Função Pulmonar de Adolescentes e Adultos Jovens

Resumo

O tabagismo eletrônico, popularmente conhecido como vaping, tem se consolidado como uma das principais formas de consumo de nicotina entre adolescentes e adultos jovens ao redor do mundo. Originalmente introduzidos como alternativas ao cigarro convencional, os dispositivos eletrônicos foram rapidamente incorporados à rotina de jovens usuários devido à disponibilidade de múltiplos sabores, percepção de menor risco, custo acessível e forte apelo publicitário. Entretanto, evidências crescentes demonstram que, longe de serem inofensivos, os cigarros eletrônicos estão associados a lesões estruturais e funcionais no sistema respiratório, muitas vezes de caráter irreversível. Entre as principais repercussões encontram-se alterações no equilíbrio ventilatório, redução da homogeneidade da ventilação, hiperresponsividade das vias aéreas, inflamação crônica de baixo grau, alterações perfusionais moduladas pelo índice de massa corporal, além de eventos graves como a E-cigarette or Vaping Product Use-Associated Lung Injury (EVALI), quadro descrito com alta mortalidade em jovens previamente saudáveis.

Estudos clínicos e experimentais revelam ainda que o aerossol liberado pelos vapes contém compostos tóxicos, incluindo metais pesados, aldeídos, nicotina em alta concentração e solventes como propilenoglicol e glicerina vegetal, todos potencialmente nocivos ao epitélio pulmonar. Tais substâncias desencadeiam cascatas inflamatórias, estresse oxidativo e alterações na função ciliar, comprometendo a depuração mucociliar e aumentando a suscetibilidade a infecções respiratórias. Técnicas diagnósticas sensíveis, como o lung clearance index e a espirometria de alta resolução, têm identificado disfunções ventilatórias subclínicas em adolescentes usuários de vapes, mesmo na ausência de sintomas evidentes. Além disso, há indícios de associação com alterações cardiovasculares e metabólicas que podem potencializar os danos pulmonares a longo prazo.

À luz desses achados, este estudo tem como objetivo revisar criticamente a literatura recente sobre o impacto do tabagismo eletrônico na função pulmonar de adolescentes e adultos jovens, analisando dados clínicos, laboratoriais e radiológicos, e discutindo implicações para a prática médica e para políticas de saúde pública. Conclui-se que, longe de configurarem uma ferramenta eficaz de redução de danos, os cigarros eletrônicos representam uma nova via de iniciação e perpetuação da dependência nicotínica, com repercussões