Resumo
As doenças causadas por parasitas no trato gastrointestinal (TGI) estão associadas a problemas socioambientais, amplificando, por conseguinte, a mortalidade populacional. O presente estudo buscou debater sobre as características intrínsecas da Esquistossomose no Brasil, explorando suas nuances clínicas, fisiopatológicas, diagnósticas, terapêuticas e preventivas. Para a construção do presente artigo foram consultadas publicações científicas disponibilizadas gratuitamente nas seguintes bases de dados: PubMed, BVS, além de literatura cinzenta, no período temporal de dez anos, com as palavras-chave: “Schistosomiasis”, “Epidemiology”, “Clinical Manifestations” e “Brazil”. Ademais, foi consultado o DataSUS para a análise epidemiológica dos parâmetros em Saúde Pública, como o perfil de acometimento pelo parasita (idade, gênero e grau de instrução). Nesse sentido, o trematódeo Schistosoma mansoni é o responsável por gerar manifestações clínicas em todos os órgãos do TGI com complicações que podem causar, por fim, a morte do indivíduo. A fisiopatologia da doença envolve a fase de penetração com as cercárias do Schistosoma mansoni penetrando na pele humana durante o contato com águas contaminadas, e posteriormente de migração, após a penetração se transformam em esquistossômulos, que amadurecem em vermes adultos e geram ovos caracterizando a fase aguda e a fase crônica dessa patologia. O diagnóstico da enfermidade ainda é subjugado configurando um problema de Saúde Pública, o qual reflete o descaso nos cuidados com o meio ambiente e com a qualidade de vida geral. Assim, para verificar se o paciente está acometido por essa patologia são necessárias técnicas como a Kato-Katz, que analisa a presença dos ovos do parasita nas fezes do indivíduo, ou ainda, a técnica ELISA identificando a presença de antígenos específicos no sangue. A análise epidemiológica, possibilitou compreender a realidade em saúde do país, haja vista que, durante o período de 2014 a 2023, foram registrados 40.410 casos da doença no Brasil, sendo mais incidente na região sudeste do país devido a fatores climáticos e pluviométricos. Ademais, o artigo notou que o maior número de casos ocorrem em indivíduos com menor nível de escolaridade, sendo relacionado a falta de conhecimento sobre o cuidado em saúde. Conclui-se, portanto, que a abordagem profilática deve envolver uma equipe multidisciplinar, capaz de entender os diferentes fatores causadores do processo saúde-doença. Infere-se ainda a importância da educação em saúde, do saneamento básico e da vigilância epidemiológica como fatores que minimizem a agrura no cenário nacional.
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