Resumo
No caminho da educação, uma sombra silenciosa se insinua pelos corredores das escolas, transformando desafios cotidianos em diagnósticos clínicos. É o espectro da psicopatologização na educação, em que comportamentos são rotulados, sintomas são medicalizados, e a singularidade dos alunos se perde na busca por uma normalidade ilusória. O simples ato de ser diferente, de desafiar o status quo, é suficiente para ser etiquetado como anormalidade, alimentando uma indústria próspera de medicamentos que busca corrigir o que não é necessariamente errado. A raiz desse fenômeno pode ser rastreada até os resquícios da Segunda Guerra Mundial, quando a revolução terapêutica abriu portas para a medicalização da vida, transformando problemas sociais em questões de saúde. Desde então, os ideais higienistas se entranharam na educação, moldando uma cultura de diagnóstico excessivo e intervenções farmacológicas que obscurecem a verdadeira natureza dos desafios enfrentados pelos alunos. Mas quem se beneficia desse processo? Certamente não são os alunos, cuja diversidade e singularidade são suprimidas sob o peso de rótulos e prescrições. Não são os professores, sobrecarregados com a responsabilidade de lidar com problemas complexos através de soluções simplistas. São, talvez, os interesses comerciais que lucram com a transformação da educação em um mercado para medicamentos, onde cada fracasso escolar se converte em uma oportunidade de negócio. No entanto, há esperança. Reconhecer a psicopatologização na educação é o primeiro passo para desfazer suas amarras. É entender que problemas escolares não são simplesmente problemas médicos, mas sim manifestações de injustiças sociais, pressões acadêmicas e falta de apoio emocional. É abraçar uma abordagem holística e colaborativa, em que cada aluno é visto como um ser único, com necessidades e potenciais distintos. Assim, o objetivo deste artigo constitui em explorar criticamente os fenômenos da psicopatologização e da medicalização na educação contemporânea, fornecendo uma análise dos conceitos, contextos históricos e implicações práticas desses processos.
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